sábado, 16 de janeiro de 2016

Eça de Queirós - Maria Filomena Mónica

Levei uns meses para conseguir acabá-lo. Não porque não me prendesse, é aliás uma excelente biografia, incortornável mesmo para os fãs do escritor. A demora deve-se a outras leituras profissionais que se impõem, e vêm quase sempre acompanhadas de um prazo para executar qualquer coisa.
Gostei muito desta obra. Maria Filomena Mónica mostra ser uma investigadora de qualidade, ou não fosse uma académica, e os traços da personalidade de Eça, assim como os pormenores sobre a sua vida familiar, ajudam a perceber a sua visão do Mundo. Era português mas era sobretudo um cidadão do Mundo.
Outro pormenor de que gostei é que a autora quando não sabe, por não ter conseguido mais informação, não inventa. Pode dar uma interpretação mas explica ao leitor que a informação disponível era aquela, e que as divagações sobre o assunto não passam disso mesmo.
Não sabia que os últimos meses de Eça tinham sido tão solitários, e sofridos, devido à doença. Andou na Suiça para ser consultado por vários médicos, e viajou sozinho pois a esposa ficou em Paris a tomar conta dos filhos, dois deles estavam também doentes. Quando Eça regressa a Paris, estava muito debilitado. Emília, sua esposa, entra num pranto de lágrimas ao perceber que o marido estava pior, e não viveria muito mais tempo.
Se tivesse que destacar apenas um aspecto desta biografia, diria que fiquei com um grande desgosto por descobrir que todos os escritos pessoais de Eça estão no fundo do mar. Sim, isso mesmo. Após a morte do marido, Emília decide deixar Paris e regressar a Portugal. 
O recheio da casa onde habitavam, e onde se incluíam, para além dos móveis, toda a biblioteca de Eça, e os seus escritos pessoais, seriam enviados para Lisboa no navio Santo André. A 24 de Janeiro de 1901, o mau tempo na entrada em Lisboa fez com que o barco naufragasse. Para o fundo do mar foram quadros de Carlos Reis, Malhoa e Veloso Salgado, para além de um quadro de Columbano onde Eça era retratado. Que pena. Será que nunca tentaram encontrar o barco e recuperar alguma coisa? Não sei. Sei é que este episódio não me saíu da cabeça durante uns dias.