quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O 'Paul' e as nossas padarias!

Uma determinada revista online escrevia, por estes dias, que a pastelaria francesa 'Paul' vai abrir na baixa de Lisboa. Já existia no aeroporto, mas agora fica ao alcance de muitos mais, no simpático centro da cidade. 
Até compreendo que a abertura destas cadeias, bem implantadas noutras grandes capitais europeias, nos façam sentir mais próximos dessas metrópoles e do conceito de 'aldeia global'. O Starbucks é outro exemplo. 
Mas vivendo em Londres há 12 anos, e sabendo da dificuldade que é encontrar um sítio simpático, onde se possa lanchar com a qualidade e diversidade que se tem em Portugal... Em cada rua -quase- há uma padaria/pastelaria de fabrico próprio, e de grande qualidade. Será que os meus compatriotas sabem a sorte que têm?
Ir ao 'Paul' pagar três vezes mais? Ir beber o café do Starbucks, que não chega aos pés dos nossos galões bem tirados? Estando de férias em Portugal nunca será opção para mim. Nem aqui vou ao Starbucks, acho o café do Costa e do Pret a Manger muito melhor.
Claro que não sou contra a abertura destas e de outras cadeias, geram alguns empregos e para os turistas são sempre pontos de referência. Mas espero que isso não implique, a médio prazo, o desaparecimento dos nossos espaços, tão bons e genuínos, e que estas modas não ofusquem o que temos de melhor. Das vezes que, em Londres, fui ao 'Paul' tomar o pequeno-almoço, foi sempre por ter saudades das nossas padarias, e não as ter por perto!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Jorge Amado, Paris e as meninas do Bataclan

Quando era pequena, ouvi falar da palavra Bataclan. Popularizou-se em Portugal depois da exibição da telenovela 'Gabriela Cravo e Canela', baseada no romance do grande Jorge Amado. Era a casa da lanterna vermelha, o cabaré onde as meninas se prostituíam. Durante anos ouvi a expressão 'putas do Bataclan', em outros contextos e quase sempre anedóticos. Nunca vi a telenovela ou li o livro, uma falha que tenho de corrigir.
O meu moço é sul-africano, filho de portugueses, e veio para Portugal já adolescente. Embora fale e escreva muito bem português, existem vários acontecimentos, tendências e músicas, dos anos 80, que lhe dei a conhecer. Faziam parte da minha infância em Portugal, e passaram-lhe completamente ao lado, por razões óbvias, na África do Sul, onde as referências eram bem diferentes.
Um dia falei-lhe das 'putas do Bataclan', e do enorme sucesso da telenovela. Isto muito antes dos recentes atentados de Paris, na também sala de espectáculos Bataclan. O moço chegou um dia a casa e disse: o que aconteceu em Paris é triste. Mas quando falam do Bataclan nas notícias, fico sempre com vontade de rir, que raio de nome...
Eu tenho uma teoria. Jorge Amado viveu imenso tempo exilado no estrangeiro, era comunista e foi perseguido no Brasil. Ele viveu em Paris de 1947 a 1950. O livro 'Gabriela Cravo e Canela' foi publicado em 1958. Penso que Jorge Amado usou o nome da sala de espectáculos parisiense para baptizar a casa de meninas da Bahia...