sábado, 23 de dezembro de 2017

O tio Manuel do Curaçau

O meu pai tinha dois anos quando o tio Manuel emigrou para o Curaçau, nas Caraíbas. Era irmão da minha avó paterna, Maria, e, segundo os meus cálculos, deixou a Madeira em 1952. Não me lembro de ouvir falar dele em criança, embora tenha uma vaga ideia de ouvir comentários sobre a família do Curaçau. O tio Manuel só voltou à Madeira 50 anos depois, em 2002. Um dia estava em casa nos meus afazeres e o meu pai chamou-me num tom de urgência e excitação: Rubi vem cá, vem conhecer o tio Manuel do Curaçau". Desci e fui cumprimentar um tio desconhecido, até para o meu pai que era seu sobrinho legítimo. Mas o meu pai estava visivelmente feliz com a visita. O tio Manuel era um homem simpático e calmo.
Ele contou ao meu pai que tinha ido visitar a irmã Maria, a minha avó. Quando se aproximou da porta, que estava aberta, e bateu a minha avó olhou para ele e disse: "se vem vender tapetes pode ir embora, tenho muitos e não preciso de comprar mais", ao que ele retorquiu: tapetes? Maria sou eu, o Manuel, o teu irmão".
Acho esta história hilariante, embora não me surpreenda. A avó Maria era assim toda despachada e sem papas na língua. Tinha um feitio duro e nem sempre afável, tal como o meu pai. Tenho pena de, na altura, não ter a maturidade e a mesma curiosidade pelas histórias de emigração que tenho hoje. E de poder saber, pela voz da primeira geração, como foi a aventura do tio Manuel e da sua família no Curaçau.

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