segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Enid Blyton (1897-1968)

À sexta-feira, a noite comecava com um mistério. Podia ler noite dentro os livros que tinha ido buscar à biblioteca da escola secundária de Machico, ou à biblioteca ambulante. A carrinha branca da Gulbenkian foi, durante anos, a única possibilidade das crianças da minha terra terem acesso a literatura. Parava no centro da freguesia, em frente à Igreja Velha.

Falamos dos anos 80, de uma vila rural numa Madeira atrasada. O truque era ir cedo ao carro, senão os melhores livros já teriam 'voado'. Os melhores, segundo os miúdos da minha idade, eram os com mais ilustrações. Pelo que nunca me sentia sem sorte, ou que tivesse que correr para os apanhar. Eram poucos os que agarravam nos livros quase sem imagens, e a Enid Blyton nunca colocou muitas imagens nas séries dos 'Cinco' e dos 'Sete'.
Agarrava dois, ia a correr para casa, e no sábado, pela hora de almoço, já tinha acabado o primeiro. As crianças inglesas, pensava eu no alto dos 10 anos, tinham hábitos diferentes, comiam umas sandes esquisitas e viviam aventuras com as quais só podia sonhar.

As séries dos 'Cinco' e dos 'Sete' foram muito importantes durante a minha infância. Determinaram, desde cedo, a minha preferência pelas letras, pela aventura e pelas viagens. A partir daí, nunca mais parei. Dei voltas ao mundo sentada no sofá, imaginava as caves escuras, as ilhas desertas com bandidos e mistérios por resolver.

Foi por isso que não hesitei em comprar a biografia da Enid Blyton, recentemente. Queria saber mais sobre esta mulher que me fez tão feliz, e foi extraordinário o que aprendi.

Enid Blyton nasceu em 1897, no sul de Londres, no seio de uma família de classe média-alta. O pai adorava música, teatro e cinema, e sempre a levou a ver espectáculos. Era a mais velha de três, e a única rapariga.

Os pais separaram-se quando tinha cerca de 10 anos, e isso afectou-a para o resto da vida. Sempre teve uma relação difícil com a mãe, e não tinha vocação para dona de casa, o que criava imensos conflitos entre ambas. De tal modo que, a partir dos 18 anos, quando decidiu fazer um curso para se tornar professora do ensino básico, nunca mais voltou a ver a mãe, e raramente viu os irmãos. Desligou-se desse mundo e criou o seu próprio mundo.

Foi uma professora bem sucedida e começou a escrever. Escrevia um livro por semana, entre 4 a 5 mil palavras por dia. E fê-lo durante toda a sua vida. Casou por duas vezes, teve duas filhas, era feliz no seu mundo de criação infantil, talvez porque sempre teve uma mentalidade de criança. Publicou enciclopédias, livros de história natural, aventuras para todas as idades e até escreveu as histórias do famoso Noddy.

Não sabia que teve uma produção literária com enorme dimensão, porque na minha Madeira(dos tais anos 80) só tive acesso às aventuras dos famosos 'Cinco' e 'Sete'. Blyton era, por vezes, uma mulher difícil, seguia apenas o que acreditava resultar e ser verdade. Não desculpava falhas, não mencionava a família (visto que o pai faleceu nos anos 20, e era a pessoa mais próxima dela), e manteve-se no seu mundo até falecer, em 1968. Teve uma carreira de inúmeros sucessos e é das escritoras mais lidas em todo o mundo. A biografia foi escrita por Barbara Stoney, poucos anos depois de morrer a escritora, com autorização da filha mais velha de Enid Blyton. Recomendo vivamente!

4 comentários:

  1. eu, apesar de ser ainda uma adolescente, em pequena adorava os cinco :) creio que nunca li nenhum dos sete, mas gostava mesmo da enid blyton *.* li a colecção do colégio das quatro torres não sei quantas vezes!
    pode ser que venha a comprar :)

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  2. Eu li todos os livros da colecção dos "Cinco" e dos "Sete" em pequena em Portugal. Estas histórias acompanharam-me durante toda a minha infância e tal como tu também imaginava as ilhas desertas e sonhava com os mistérios por resolver. O ano passado comprei todos os livros da colecção dos "Cinco" aqui em Londres e li-os todos novamente, agora em inglês. Apesar de já ter 32 anos adorei!! :) :)

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  3. Ah minha querida! Os cinco... li os livros todos e levantava-me para ver a série na televisão e sempre, mas mesmo sempre quis ter um TIM como cão. Para além disso li os sete e as histórias todas do colégio das 4 torres. Mas a minha paixão era o pai da Zé que punha mostarda nas torradas porque estava a pensar na sua última descoberta. Sei que são pequenos disparates hoje em dia, mas adorei esses livros.

    A propósito dessa biografia li um artigo que me deixou um pouco triste, porque aparentemente ela era um bocado despótica com as filhas e não sei porquê, sempre imaginei que ela seria como nos livros. É um erro! Por outro lado, depois de conhecer o Francisco José Viegas já devia ter deixado de querer saber mais sobre os autores...
    Beijos

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  4. Kikas: também estou a pensar comprar!

    Papuásia Ocidental: por acaso no outro dia vi que a WHSMIMTH anda com umas promoções destes livros, e vêm já numa caixinha e tudo. Obrigada pelo comentário.

    Mariita: Percebo. O que descobri é que a Enid Blyton ficou muito marcada pela separação dos pais, e a mãe não via com bons olhos o interesse dela pela literatura e achava que ela tinha que aprender a ser uma dona de casa exemplar, para casar e ter filhos. Ela ficou muito marcada e cortou com a família. Não vejo explicação para esta posição tão radical, afinal os irmãos não tinham conflictos com ela, mas parece que por não sentir dos pais a mesma dose de afecto isso afectou-a demasiado e a partir daí sempre foi intolerante para quem tentava contrariá-la. Por outro lado, tinha uma relação muito próxima com a filha mais velha, que sempre a defendeu, mas com a filha mais nova (Imogen) havia mais conflicto porque ela dizia que a mãe era pouco tolerante e arrogante. Sinceramente acho que a Enid subiu a pulso, e porque era realmente uma escritora para crianças fabulosas, e isso lhe permitiu ter uma vida muito confortável e aproximar-se de certos sectores da sociedade. Mas não creio que fosse arrogante ou snob. Enfim, os acontecimentos de infância marcam-nos de forma diferente. Bem, já escrevi demais! Beijos

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