Lembro-me que era adolescente e tinha ido ao cinema Santa Maria, no Funchal, acompanhada pela Carmo e pela Patrícia, minhas colegas do Liceu Jaime Moniz. O professor de direito tinha recomendado que víssemos ‘A Lista de Schindler’.
Instaladas numa sala antiga mas confortável, assistimos à película e
carregamos connosco a sua poderosa mensagem. A segunda guerra mundial, e a
perseguição nazi ao povo judeu, é um tema que continua a ser actual, basta para
isso ver a quantidade de filmes e séries que continuam a ser produzidos.
Quando visitei Londres pela primeira vez, corria o ano da graça de 2003,
passei uma tarde no Imperial War Museum, que se situa em Lambeth North. Desde
que vivo na 'Big Smoke' voltei lá outras duas vezes.
Em todas as visitas aprendi coisas novas, pois o museu não explora apenas
assuntos de guerra e geoestratégia. O espaço tem uma grande dimensão humana,
mostra histórias de soldados e oficiais nos campos de batalha, partilha
conteúdos de cartas que escreveram às famílias e isso, de certa forma, humaniza
certos acontecimentos bélicos que mostram o pior da humanidade.
Uma das alas mais interessantes – e tristes – retrata a vida nos campos de
concentração nazis. No meio das tragédias, ilustradas com excelentes mapas e
maquetes, há muita informação sobre os ‘monstros’ que ao serviço de Hitler
dizimavam judeus, sem dó nem piedade, tal como nomes de pessoas que ajudaram a
salvar o povo hebraico, como foi o caso de Oskar Schindler.
Mas lá não estava o nome do herói português Aristides Sousa Mendes. O
cônsul que na cidade francesa de Bordéus, e desobedecendo às ordens de Salazar,
deu vistos de entrada em Portugal a milhares de judeus que se conseguiram
salvar. O diplomata português salvou muitas mais vidas que Schindler.
Resolvi escrever um email para o museu a explicar que – tal como Schindler,
o antigo cônsul português merecia ser referenciado. Facultei alguns dados
históricos e até sugeri que contactassem a embaixada de Portugal em Londres.
Recebi como resposta um simpático email escrito por uma das responsáveis,
onde agradecia a informação que disse desconhecer, e acrescentou que talvez no
futuro pudessem colocar uma referência a Aristides Sousa Mendes.
Não admira que o nosso cônsul não seja assim tão conhecido. Para além de
ter morrido na miséria, consequência da desobediência a Salazar, ainda hoje a
sua casa de família, em Cabanas de Viriato, está em péssimo estado de
conservação (a cair de podre para ser mais exacta). No meio da inconstância
política, e do jogo do empurra, não se conserva e edifica um espaço que poderia
ser um interessante museu que divulgasse o envolvimento e a intervenção do
diplomata português na salvação de milhares de vidas.
Já vai sendo tempo de Portugal tratar de forma digna os seus melhores. A
acção de Aristides Sousa Mendes não pode ser esquecida. Tenho também de voltar
ao Imperial War Museum, e verificar se o meu simples email surtiu efeito!
Foi muito bom a sua iniciativa, espero que alcance o seu objectivo e ponha em destaque o A.Sousa Mendes.
ResponderEliminarSoube, à pouco tempo, que me corre sangue judeu, no entanto, disseram-me que era baptizado pela santa igreja.
Bem vê, somos todos da ICAR, nunca me senti tal coisa.
já vi o filme mais de 3 vezes, é claro, choro compulsivamente.
Bem Haja
Obrigado. Um abraço!
ResponderEliminar