quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Eça de Queirós em Bristol

Em Outubro passado fiz uma visita especial ao número 38 de Stoke Hill, nos arredores da cidade de Bristol, para ver e fotografar a casa onde viveu Eça de Queirós. Eça chegou a Bristol em Abril de 1879. Viveu antes em Newcastle, onde exercia a função de cônsul de Portugal. Segundo a biografia escrita por Maria Filomena Mónica (2009), os anos em Bristol foram dos mais felizes da vida do diplomata, jornalista e escritor. Foi ali que escreveu 'A Capital', o 'Conde de Abranhos', 'O Mandarim', 'A Relíquia' e a sua obra prima, 'Os Maias'. Foi também nesta cidade que começou a escrever de forma regular, e com grande sucesso, na imprensa do Brasil.

De início vivia sozinho num apartamento. Após o casamento com Emília de Resende, alugou esta casa grande, em Março de 1886, para poder acomodar a esposa e a futura prole. 




O que me pareceu, na manhã que visitei,  é que o bairro continua a ser uma zona nobre, com espaços verdes muito simpáticos, moradias enormes, muito sossego e próximo da conhecida ponte de Clifton. 


Apesar da residência ser grande e confortável, a esposa de Eça sentia-se ali muito isolada. Era uma casa no campo, nos arredores da cidade, e Emília estava habituada a viver num palacete no centro do Porto. Por essa razão, cerca de dois anos depois foram viver para Londres.
Esta casa é uma propriedade privada, pelo que tivemos sorte de o portão estar aberto e podermos espreitar e tirar algumas fotos. Tenho, aliás, que agradecer à Fundação Eça de Queirós, que me informou da morada da casa de Bristol, pois não conseguia encontrar informação online, e até me enviou uma foto com a proprietária da casa, na década de 60, juntamente com uma bisneta de Eça de Queirós, fotos que também partilho. 



Seja com visitas intencionais ou de circunstância, a verdade é que já explorei sítios queirosianos em Newcastle, Lisboa, Coimbra, Londres, Havana, Tormes/Santa Cruz do Douro e Bristol. Acho que me faltam Paris, (que tendo visitado, não andei à procura de vestígios da passagem de Eça) Leiria, Évora e a Praia da Granja. Ainda me apelidam de stalker. 

sábado, 10 de dezembro de 2022

St. James Church - A igreja em Twickenham que era frequentada pelo último rei de Portugal

Quinta de manhã fui visitar dois sítios que queria conhecer há muito tempo. Primeiro, parei na igreja de St. James, em Twickenham, que era frequentada todos os domingos pelo último rei de Portugal, D. Manuel II, que viveu nesta zona dos subúrbios de Londres desde 1914 até à sua morte ainda novo, em 1932.

Não sabia se poderia visitar o interior. Havia uma sala aberta mesmo ao lado da igreja. Estavam umas pessoas em arrumações natalícias e perguntamos se podíamos entrar. Foram muito receptivos e poucos minutos depois, já no interior da igreja, o padre veio ter connosco e fez-nos uma visita guiada. Que luxo (aposto que foi sorte de aniversariante)!



D. Manuel II era muito estimado pela população local. Envolveu-se como voluntário em várias causas sociais, ao longo dos anos, gostava de tocar no orgão da igreja, durante a missa. Juntamente com a esposa, a duquesa de Bragança de origem alemã, Augusta Victoria, foram padrinhos de vários jovens das redondezas. A última afilhada da duquesa faleceu em 2011.

O padre mostrou-nos os dois vitrais da igreja que foram oferecidos pelo rei D. Manuel II, falou-nos da estima e respeito que os locais tinham por ele, do homem culto que foi e de outros dois vitrais que foram colocados mais recentemente, um em homenagem aos portugueses que morreram durante a primeira guerra mundial, e outra homenageando D. Manuel II como figura humanitária e com grande sensibilidade social. O monarca ajudou a fundar um centro ortopédico que cuidava dos feridos da grande guerra, doava dinheiro às igrejas locais, trabalhou para a Cruz Vermelha e financiou a criação do museu de Twickenham. Quando faleceu, o seu caixão passou pelas ruas de Twickenham que estavam ladeadas com crianças das escolas locais.

                                                     
                                                    Vitrais oferecidos por D. Manuel II

                                
                                    Vitrais mais recentes, em homenagem a Portugal e ao monarca



Depois, o senhor padre levou-nos a visitar um salão paroquial onde estão expostas algumas fotografias e documentos relacionados com o monarca. Uma foto do rei a tocar orgão, e outra com a esposa, que achei muito romântica.

Achei belíssima esta fotografia de D. Manuel II com a esposa, a duquesa Augusta Victoria
                                                    O monarca a tocar o órgão da igreja



                                                                    Interior da igreja

Hoje em dia, os vestígios da estadia da família real portuguesa ainda são visíveis nos nomes das ruas como Manoel Road, Lisbon Avenue, Augusta Road and Portugal Gardens. Da segunda visita conto noutra publicação.