Uma pessoa passa a vida toda a ouvir falar de Martin Luther King e do famoso discurso 'I have a dream'. Mas confesso que ler o discurso de fio a pavio era algo que nunca tinha feito. Conhecia algumas ideias, sabia umas coisas, mas nada que se compare a contextualizar o tempo e o discurso. Ando a ler uma pequena biografia do líder religioso e ontem chegou a essa parte, da famosa intervenção em Washington. King tinha preparado um outro discurso mas naquele dia sentiu que tinha que libertar o que lhe ia na alma. Deixou de lado os rascunhos e falou com o coração. Deixo aqui algumas das passagens que mais gostei:
«Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a
trabalhar com a fé de que um sofrimento injusto é redentor.
Voltem para o Mississipi, voltem para o Alabama, voltem
para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para a Luisiana, voltem
para as bairros de lata e para os guetos das nossas modernas cidades, sabendo
que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não nos
embrenhemos no vale do desespero.
Digo-vos, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades
e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente
enraizado no sonho americano.
Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e
viverá o verdadeiro significado da sua crença: "Consideramos estas
verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados
iguais".
Tenho um sonho que um dia nas montanhas rubras da Geórgia
os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos
poderão sentar-se à mesa da fraternidade.
Tenho um sonho que um dia o estado do Mississipi, um
estado deserto, sufocado pelo calor da injustiça e da opressão, será
transformado num oásis de liberdade e justiça.
Tenho um sonho de que os meus quatro filhos viverão um
dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade
do seu caractér.
Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que um dia o estado de Alabama, cujos
lábios do governador actualmente pronunciam palavras como 'intervenção' e
'anulação da integração racial', que um dia seja transformado numa condição
onde pequenos rapazes negros, e raparigas negras, possam dar as mãos com
outros pequenos rapazes brancos, e raparigas brancas, caminhando juntos, lado a
lado, como irmãos e irmãs.»
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