sábado, 2 de fevereiro de 2013

Crónicas de um funeral

Hoje despedimo-nos dela. Apesar da minha mobilidade altamente reduzida, fiz um esforço e fui à cerimónia fúnebre sem saber bem ao que ia. Nunca fui a um funeral em Inglaterra.
Cheguei e quase não conhecia ninguém. Os poucos que conhecia não me eram próximos. O meu ex-chefe, que era subordinado dela, e a quem apaguei fogos muitas vezes, nem olhou.
O meu 'gang' não estava em lado nenhum... Fiz o meu papel, estava lá por ela, e quando me preparava para ir embora liga-me um membro do gang a dizer que estavam atrasados mas quase a chegar.
Que bom. Chegaram, vieram ter comigo e disse que fossem para o local x do cemitério antes que fosse demasiado tarde. Tinha estado perto mas voltei, era demasiado longe para me deslocar outra vez. 
O amigo V. perguntou se estava bem. «Estou. Mas sinto-me algo ridícula, quase sem  poder andar e ignorada pelo 'great leader', nem um boa tarde...»
 «Esquece a bosta. Vieste nessas condições por ela, e com o teu homem, que mais força precisas? Está tudo à vista mulher. Além do mais estás com óptimo aspecto», disse ele.
E era verdade.
«Livrem-se se um dia chegam ao meu funeral tarde. Eu ligo-vos a perguntar onde estão. Ouviram?», disse. Primeiro um ligeiro choque, depois gargalhada geral.
Ela foi minha chefe, e chefe do 'great leader/bosta'. Gostava de mim, tinha um feitio difícil mas era uma mulher justa.
Acabada a cerimónia, seguiu-se uma ida a casa dela para conversar com a família, beber e comer, algo que continuo a achar deveras estranho. Comer e beber na casa do falecido, quando acabamos de o enterrar... Mas são hábitos de cá e uma gaja tem de se adaptar.
Despedi-me do gang. O V. diz: «a bosta é mesmo insuportável, mas foi ignorado». Ao que respondi, «o que é que isso interessa? I would not go to his funeral anyway». Gargalhada novamente, abraços e beijos. 
A vida continua... Que descanse em paz!

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