quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Literatura e coração

Tive uma amiga durante a adolescência que tinha uma paixoneta pelo professor de português. Contava que ele tinha mau feitio, que gostava de contrariar as miúdas e que havia mais colegas com interesse no prof. 
No meu papel de amiga e confidente, lembro-me de ter ouvido imensas histórias. Debates mais ou menos acesos, provocações, o normal naquelas idades da parva.
Um dia veio ter comigo para pedir um conselho; como é que poderia impressionar o professor e chamar a sua atenção? Não sabia bem o que lhe dizer, mas como ele era professor de português aconselhei que lesse o livro x, para o impressionar. «Leva-o para a sala e coloca-o de maneira a que o prof. veja o que estás a ler». Ela assim fez e resultou. O prof mal podia acreditar quando a viu desfolhar o 'Crime e Castigo', de Dostoyevsky. Não só conseguiu a atenção desejada como ainda conversaram sobre o livro. 
Dias mais tarde, descobri que o tal prof. era meu colega no grupo coral, sim andei num e gostei, e não era coro da Igreja...
«É por ele que andas assim? Ele tem namorada. Não lhe acho piada nenhuma», disse. Ela esmoreceu e eu também. Deixei de ser confidente. Ou de como matamos um assunto com uma frase!

1 comentário:

  1. Muito bom! Quem já não teve uma amiga dessas no seu tempo de adolescência?! Belo texto e bela frase de remate. :)

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